Hansen Bahia
O que dizer do homem que viveu uma paixão, total e incondicional, pela terra que o abrigou, a ponto de lhe adotar o nome? O que dizer da obra desse homem, que se valeu amiúde e intensamente de temas baianos, e que exibida em países da Europa, da América Latina e nos Estados Unidos, exibiu também a beleza e os mistérios da terra e da gente da Bahia? O que dizer do legado cultural deixado por esse homem – doação, gesto de amor e gratidão à Bahia, terra que o inspirou e da qual ele se fez filho e amante?
Karl Heinz Hansen, alemão rebatizado Hansen Bahia, foi o mais baiano de todos os baianos, brasileiros ou estrangeiros que já pisaram esta terra. Aqui, sua obra e vida se consolidaram. Aqui, mais precisamente na cidade de São Félix, Hansen Bahia e Ilse – artista plástica e eterna companheira – recriaram na Fazenda Santa Bárbara um núcleo de amor e arte, que, com todo o seu acervo, foi doado em testamento ao município de Cachoeira e que leva seu nome: Fundação Hansen Bahia.
Essa doação, prova de gratidão de Hansen à Bahia, constitui-se em uma instituição cultural e educativa, sem fins lucrativos, destinada a colaborar no fomento a produção cultural da região.
Neste ano, quando das comemorações pelos 90 anos de Hansen Bahia, vale lembrar as palavras de Jorge Amado, também ele um artista que descortinou as coisas e a gente da Bahia para o mundo, sobre o artista e a terra que o encantou:
“Eis que a Bahia tem esse mistério, essa grandeza sem limites, esse óleo de luar que escorre pelas noites, sobre os homens, ninguém pode a ele resistir. Aqueles são realmente artistas, chegados das partes mais distantes do mundo, por vezes displicentes, por vezes tristes, por vezes cansados. Sei de muitos conquistados assim pela Bahia, brasileiros de outras plagas, estrangeiros vindos através dos mares. O último de que tenho notícia é o alemão Hansen, artista dos melhores que pisaram o solo baiano (…)”.
As palavras de Jorge Amado traduzem inequivocamente nosso sentimento em relação ao artista e a terra, cuja simbiose resultou no engrandecimento da nossa arte e da nossa cultura.
Texto: Paulo Gaudenzi